o falsário torna-se o próprio personagem do cinema e não mais o criminoso, o cowboy, o homem psicossocial, o herói histórico, o detentor de poder. O falsário é o novo personagem que vem operar o transito contínuo da forma fixa à metamorfose: Eu é outro substitui Eu= Eu, ou seja, contrariamente à forma do verdadeiro que é unificante e tende à identificação de um personagem, a potência do falso, do falsário, é inseparável de uma irredutível multiciplidade. Não se trata, portanto, com a potência do falso emergindo enquanto princípio de produção das imagens, de embuste, ilusão ou fraude colocadas no lugar e em oposição a um ideal de verdade, mas de uma vontade de potência que se põe em ato, relação entre forças, poder de afetar e ser afetado.
Gilles Deleuze, As potências do falso
foto do filme Cronique d `un été, de Jean Rouch e Edgar Morin